Cooperativas promovem a educação e transformam comunidades
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A educação é capaz de transformar realidades. Podem ser conquistas pessoais, com a abertura de novas oportunidades por meio do ensino, ou avanços estruturais, que geram ganhos para toda a sociedade. Com a educação entre seus princípios, o cooperativismo tem sido um vetor dessa transformação, promovendo o acesso à formação inclusiva e de qualidade e contribuindo diretamente para alcançar o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 4 - Educação de Qualidade, definido pela Organização das Nações Unidas (ONU) como uma das metas globais para 2030.
O compromisso com a educação está presente em todas as áreas de atuação do coop, em iniciativas que impactam a vida das pessoas e impulsionam o desenvolvimento das comunidades. Além da responsabilidade transversal, o cooperativismo também tem um segmento dedicado exclusivamente a esse setor: as cooperativas educacionais.
Formadas por professores (ramo Trabalho, Produção de Bens e Serviços) ou por pais e responsáveis de estudantes em busca de ensino de qualidade (ramo Consumo), 213 coops educacionais estão construindo uma educação mais justa e inovadora no Brasil, contribuindo para a formação de uma sociedade consciente, colaborativa e bem-sucedida.
O segmento reúne mais de 190 mil cooperados e gera cerca de 5 mil empregos diretos, segundo dados do AnuárioCoop 2024. A maioria das escolas cooperativistas brasileiras são pequenas e médias, com até 500 matrículas. Em 2023, o segmento educacional cooperativista gerou R$ 802 milhões em receitas.
Um dos grandes diferenciais das cooperativas educacionais é formar novos cooperativistas com base em uma abordagem colaborativa que abrange, além de disciplinas tradicionais, competências como empatia e cooperação, incentivando valores como união, solidariedade e sustentabilidade.
Um exemplo dessa metodologia na prática é o programa Cooperjovem, implementado em escolas públicas, privadas e cooperativas educacionais do país. Desenvolvido pelo Sistema OCB há mais de 20 anos e alinhado às competências da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a iniciativa promove a cultura da cooperação em quatro eixos temáticos: educação cooperativista, empreendedora, financeira e ambiental. Os conteúdos são implementados de forma interdisciplinar e lúdica, contribuindo para que crianças e jovens tornem-se agentes de desenvolvimento sustentável em suas comunidades.
Em 2019, uma pesquisa realizada com professores, pais e alunos participantes do programa confirmou o impacto positivo do Cooperjovem no nível de conhecimentos, habilidades e atitudes cooperativas.
Cooperação e resultados
Em Lajinha, município de Minas Gerais com pouco mais de 20 mil habitantes, o estudante é o protagonista do Centro Educacional Coopcel, escola cooperativista fundada há 27 anos. Com o lema “Educação com amor”, a coop formada por 43 profissionais atende atualmente a 244 estudantes, da educação infantil ao ensino médio.
A Coopcel preza pela essência cooperativista. De acordo com a diretora pedagógica da instituição, Carla Vieira, todo o trabalho dos professores é voltado para transmitir a educação e cultura cooperativistas, ensinando que cooperar é o melhor caminho.
“Fazemos educação com propósito. Além de sermos técnicos nas várias áreas do conhecimento, amamos o que fazemos. Ser professor em uma cooperativa de professores reflete o amor por ensinar, por querer contribuir para a formação integral dos nossos estudantes”, afirma a gestora.
Reconhecida no município pelo ensino de qualidade, a cooperativa também é referência pelo compromisso dos cooperados com a formação continuada dos professores e a busca por inovação e metodologias ativas para atrair o interesse dos estudantes.
“Os resultados desse empenho têm sido muito positivos. Hoje a Coopcel tem em sua grade curricular aulas de robótica e também uma equipe de estudantes no Torneio Brasil de Robótica. Participamos pela primeira vez em 2023 e no ano passado já ficamos em 15º lugar em nível nacional, além do 3º lugar em nível regional por dois anos consecutivos. Nossa escola também vem conquistando muitas aprovações em vestibulares e no Enem [Exame Nacional do Ensino Médio]”, destaca.
A lista de resultados da Coopcel também inclui uma transformação fundamental para a comunidade de Lajinha: antes da cooperativa, o município não tinha escolas de ensino médio ou cursos técnicos profissionalizantes. Quando chegavam a essa etapa, os jovens tinham que se deslocar para cidades vizinhas, ou até deixavam de estudar, principalmente os que vivem na zona rural.
Hoje, eles permanecem com suas famílias e, após se formarem, muitos começam a trabalhar em outras cooperativas da região, conhecida pela produção de café.
Educação coop para o desenvolvimento
Em Santa Rosa, no Rio Grande do Sul, a cooperativa educacional Cooperconcórdia tem provado que a educação para cooperar não se restringe às salas de aula. Além do Colégio Concórdia – de educação infantil, ensino fundamental e ensino médio – a coop também é responsável pelo Programa de Desenvolvimento Profissional Cooperativo (Capacita) e pelo Aprendiz 10, duas iniciativas que têm impactado a comunidade e a economia da região.
O Capacita oferece qualificação profissional para equipes de cooperativas, empresas privadas e outras instituições, por meio de treinamentos, palestras, workshops, reciclagens, formações pedagógicas, treinamentos vivenciais e jogos cooperativos. Desde 2018, mais de 40 mil profissionais passaram por capacitação técnica com a Cooperconcórdia.
Já o Aprendiz 10 é um programa de ensino técnico-profissional para jovens que desejam entrar no mercado de trabalho. Em 17 anos de atuação na aprendizagem profissional, a iniciativa da coop beneficiou mais de 6 mil jovens, com 250 turmas no Rio Grande do Sul e 50 empresas atendidas. O projeto tem uma versão específica para formar jovens lideranças cooperativistas no setor agropecuário, o Aprendiz Cooperativo do Campo, que capacita os aprendizes para a gestão eficiente de propriedades rurais e para a sucessão nos negócios familiares.
Movimento CoopEducação
Um projeto inovador do Sicoob Sarom, cooperativa de crédito que atua há mais de 30 anos em Minas Gerais, demonstra na prática que o compromisso com a educação não é uma exclusividade das coops do segmento.
Com investimentos consolidados em programas educacionais nas últimas duas décadas, a cooperativa tem impactado comunidades promovendo o cooperativismo, o empreendedorismo e a inclusão financeira como ferramentas para a construção de um futuro mais próspero.
O movimento de valorização da educação pelo Sicoob Sarom começou na década de 1990, segundo o presidente da cooperativa, João Carlos Leite. Naquela época, muitas famílias do município de São Roque de Minas tinham que migrar para outras cidades em busca de um ensino de qualidade que garantisse um futuro promissor para seus filhos.
A resposta cooperativista para o problema foi a união de um grupo de pais para fundar a Cooperativa Educacional Sarom (CES), com o apoio da coop de crédito. A escola garantiu o acesso da comunidade a um modelo educacional inovador, baseado nos valores do cooperativismo, na educação financeira e no comportamento empreendedor.
“Além do currículo convencional, as coops educacionais promovem a cooperação, incentivando a autonomia, o pensamento crítico e a gestão sustentável. Diferente das escolas privadas tradicionais, as cooperativas educacionais reinvestem os recursos financeiros na infraestrutura, capacitação dos professores e melhoria da qualidade do ensino. A proximidade entre comunidade, alunos e educadores permite um ensino mais personalizado, com metodologias ativas e acompanhamento próximo do desenvolvimento estudantil”, destaca Leite.
O impacto positivo da CES inspirou o Sicoob Sarom a expandir suas iniciativas de promoção da educação para outras comunidades. Em 2013, a coop de crédito criou o Movimento CoopEducação, com a missão de levar a educação cooperativista, empreendedora e financeira a escolas públicas e privadas de suas regiões de atuação.
Em 12 anos, o Movimento CoopEducação já chegou a 17 municípios mineiros, em mais de 120 escolas parceiras, e impactou mais de 44 mil alunos. Em 2024, o programa foi reconhecido no Prêmio SomosCoop Melhores do Ano com o troféu prata da categoria Cultura Cooperativista.
Além de capacitar jovens para um futuro de mais cooperação, o projeto do Sicoob Sarom apoia escolas na implementação de metodologias inovadoras, fortalecendo a cultura cooperativista. Por meio de parcerias municipais e estaduais, a cooperativa também qualifica professores para que eles possam ensinar educação cooperativista, empreendedora e financeira em escolas da rede pública de ensino. Desde 2013, o programa ofereceu 1,1 mil horas de capacitação para mais de 2,2 mil professores que hoje aplicam os conteúdos em sala de aula.
“Acreditamos que parcerias com prefeituras, secretarias de educação e superintendências regionais de ensino são essenciais para viabilizar ações locais. Além disso, a cooperativa tem atuado ativamente nos municípios, apoiando reformas de escolas e creches, doação de uniformes e outras ações que transformam realidades e fortalecem as comunidades”, ressalta o gestor.