A força das cooperativas escolares da Argentina
As cooperativas escolares acabaram se transformando em uma marca do cooperativismo sunchalense, com destaque, inclusive, no exterior. Em março, a cidade foi reconhecida pela organização Cooperativa de las Américas como "Cidade Desenvolvida em Cooperativismo Escolar".
Cerca de 3,5 mil estudantes fazem parte dos projetos, que estão presentes em quase todas as escolas da cidade – urbanas, rurais e de ensino especial – exceto em uma, que foi criada no fim de 2019 e, por causa da pandemia, ainda não teve sua cooperativa formada.
Segundo a coordenadora da FeCoopES, Julieta Camino, em cada cooperativa, os estudantes decidem que atividades ou produtos vão desenvolver, e participam de todas as etapas, inclusive da administração da entidade.
A participação nas cooperativas muitas vezes funciona como um estágio, porque eles aprendem a gerenciar estoques, a negociar com fornecedores. Há muitos estudantes que fizeram parte de cooperativas escolares e hoje estão em grandes empresas.”
Entre as atividades desenvolvidas atualmente nas 17 cooperativas escolares de Sunchales estão a produção de itens de higiene, artigos de papelaria, objetos de decoração, e a venda de alimentos e material escolar. A renda é reinvestida na compra de matérias-primas ou em benfeitorias para as escolas, como bebedouros. Também há estudantes que se dedicam a hortas nas escolas e outros que criaram uma rádio interna.
Os alunos cooperativistas recebem apoio financeiro da Casa Cooperativa e da Fundação Sancor, além de recursos de um fundo municipal formado por 3% do valor dos impostos pagos pelas cooperativas ao governo local.
A estudante universitária Jenifer Molina fez parte de uma cooperativa escolar, e integrou o conselho da FeCoopES e diz que a experiência foi um diferencial em sua formação. “O que aprendi vai muito além da escola, a cooperativa é um outro ambiente. Os valores que aprendemos vão muito além da teoria, passam a ser parte da nossa vida. Levo agora para a faculdade e, com certeza, para a vida profissional. Eu não seria a pessoa que sou hoje sem esse aprendizado, inclusive sobre como ter voz, saber falar sobre o que queremos.”
OLHOS NO FUTURO
Outra iniciativa pioneira de Sunchales para a educação é o Instituto Cooperativo de Enseñanza Superior (ICES), criado em 1986 para atender à demanda por profissionais de informática que trabalhassem com os computadores que nessa época estavam chegando às cooperativas.
Trinta anos depois, o objetivo foi alcançado, segundo Román Frutero, diretor do instituto, e os analistas de sistemas que se formam na instituição, em geral, são absorvidos por empresas e cooperativas locais.
Agora, as novas necessidades aumentam a demanda por desenvolvedores, e já começamos a oferecer capacitação nessa área.”
O ICES disponibiliza oferece educação superior por meio de tecnicaturas (o equivalente aos cursos de tecnólogos no Brasil) e universitários, em convênio com universidades da região. Alguns cursos têm ligação direta com o cooperativismo, como o de Gestão das Cooperativas e Mutualistas, e o Curso Superior de Cooperativismo.
Idealizado pela Casa Cooperativa de Sunchales, desde 2008 o ICES está sob a gestão da Fundação Sancor Seguros, e em dezembro do ano passado ganhou uma sede moderna e funcional às margens da rodovia federal RN 34, em um prédio com ares futuristas que chama a atenção em meio à paisagem rural da região.
A construção faz parte de um megaprojeto que também inclui a futura sede para o Centro de Innovación Tecnológica, Empresarial y Social (CITES), uma incubadora de empresas de inovação lançada em 2015 pela megacooperativa seguradora. Atualmente, há 25 empresas no projeto nas áreas de tecnologia, fármacos, medicina, agropecuária, nanotecnologia, dentre outras. Uma delas é a startup Llamando al doctor (Telefonando para o médico, em tradução livre), que conecta médicos e pacientes por videoconferência para atendimento inicial. Lançado em 2018, o aplicativo foi providencial após o início da pandemia do coronavírus e passou a ser usado pelo plano de saúde da Sancor Seguros para atendimentos a afiliados em todo o país.
Esta matéria foi escrita por Luana Lourenço, Correspondente da Saber Cooperar na Argentina e está publicada na Edição 33 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação