OCB participa de audiência pública sobre formação do preço do leite no País
Discutir o que leva ao aumento do valor cobrado pelo leite no decorrer de sua cadeia produtiva, que começa no produtor rural, passa pela indústria de laticínios e, finalmente, chega aos supermercados. Este foi o objetivo de uma audiência pública realizada nessa terça-feira (11/8), por iniciativa de parlamentares da Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados, em Brasília (DF). Vicente Nogueira, coordenador da Câmara Temática de Leite OCB/CBCL, representou a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), durante os debates.
A maior preocupação dos parlamentares é a diferença entre o que é pago ao produtor primário - R$ 0,77 por litro, em média - e o que é cobrado do consumidor final (R$ 2,20, em média, segundo a Confederação Nacional da Agricultura). Em alguns estados, o consumidor pode encontrar o leite longa-vida por mais de R$ 3.
No debate, o representante da indústria de laticínios, Alexandre Marques, garantiu que o segmento tem margem de lucro máxima de 4% sobre o que é pago aos produtores. Ele argumentou que, de 1994 até hoje, o leite foi o produto cujo preço menos subiu na indústria em proporção aos aumentos nos insumos, como mão-de-obra e gastos com transporte.
Em seu pronunciamento, o representante da OCB, Vicente Nogueira, referindo-se aos varejistas, disse que a margem de lucro de até 25% pode ser considerada aceitável. No entanto, ele denunciou que, no Distrito Federal, ela chega a 40% no caso do leite longa-vida. No leite em pó, segundo informou, já foram constatadas margens de 100% em Belo Horizonte.
Nogueira citou também que os produtores não têm como competir com preços de importações de países como Uruguai, que tem seu produto subsidiado. Quanto ao valor do preço do leite, em entrevista, citou que a questão do aumento nada tem a ver com os produtores que recebem entre 0,60 e 0,70 centavos por litro. A margem estaria sendo repassada aos consumidores pelos varejistas.
Custo da embalagem
Os dados foram rebatidos pelo presidente da Associação Brasileira dos Supermercados, Sussumu Honda. Ele afirmou que vai encaminhar aos deputados dados comprovando que o setor tem margem de ganho máxima de 15%.
Para Honda, o preço do leite só não é menor devido ao custo da embalagem tetra pak, presente em 80% das unidades vendidas no País. "É uma embalagem que, quando comparada ao produto, fica muito cara. É preciso lembrar que o modelo de plástico, tradicionalmente chamado de 'barriga mole', tem um custo bem menor", afirmou. Ele destacou que o preço do leite está caindo porque o País começa a sair do período de entressafra.
O deputado Vitor Penido (DEM-MG) informou que vai pedir as planilhas dos supermercados para ver se procedem os argumentos dos varejistas e então tomar providências. "Temos que cobrar isso junto aos órgãos de defesa do consumidor, ao próprio Ministério Público Federal ou até mesmo pedir uma investigação do Ministério da Fazenda. O que não podemos permitir é ouvir do representante dos supermercados que o responsável pelo preço é a embalagem", criticou.
Já o deputado Antônio Andrade (PMDB-MG) alertou que, se a remuneração do produtor de leite não melhorar, o brasileiro mais pobre correrá o risco de ficar sem o alimento, fundamental especialmente para crianças, gestantes e idosos. (Com informações da Agência Câmara)