Crianças cultivam alimentos livres de agrotóxicos

Brasília (5/11/18) – Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar em todas as idades. Foi esse Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que inspirou a Cooperativa Educacional de Maceió (Coopema) a iniciar o projeto Verde Vivo na Minha Escola, em 2018.

O trabalho reúne 230 pessoas, sendo estudantes, professores e funcionários, todos voluntários. O objetivo é ensinar a crianças de seis a onze anos sobre o plantio de hortaliças livres de agrotóxicos para consumo próprio. O projeto começou em julho e tem previsão de colheita em dezembro. Especificamente duzentos e oito estudantes, do 1º ao 5º ano do ensino fundamental, integram o projeto.

De acordo com dados divulgados pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), o brasileiro consome em média sete litros de veneno por ano, o que resulta em mais de 70 mil intoxicações agudas e crônicas em igual período. “Nós queremos trazer para as crianças o propósito de desenvolvimento sustentável e de vida saudável. Desde pequenos eles vão saber como produzir e como consumir determinados alimentos”, disse Fátima Monteiro, cooperada da Coopema e coordenadora voluntária do projeto.

O cultivo acontece nas dependências do Colégio São Lucas (administrado pela Coopema), em Maceió, Alagoas. Um canteiro foi produzido pelos colaboradores da instituição e os estudantes foram as responsáveis por confeccionar os vasos, plantar, adubar e aguar as hortaliças. Estão sendo cultivados alface, coentro, cebolinha, rúcula, manjericão e beterraba, com adubação orgânica e com irrigação manual. Já o consumo se dará através da cantina que serve crianças do ensino integral.

Thelmo Moraes, engenheiro agrônomo responsável por instruir e acompanhar os estudantes durante o cultivo, explica que sustentabilidade é a palavra-chave. “Além de utilizar garrafas pet como vasos e regadores, estamos reaproveitando casca de ovo e pó de café na adubação. As crianças fizeram todo o trabalho de confecção dos vasos e regadores e estão ansiosas para a hora da colheita e do consumo”, disse.

Durante a grande celebração do Dia de Cooperar 2018, os estudantes receberam lápis enviados pelo Sistema OCB Nacional contendo sementes na ponta e eles também foram aproveitados no projeto. “A ideia foi sugerida pelo Sistema OCB/AL e nós a aprimoramos introduzindo mais hortaliças. Plantamos as sementes de rúcula, véu-de-noiva e agrião que vieram nos lápis, e gostamos tanto da ideia que decidimos ampliar e tornar essa ação em uma atividade continuada”, explicou Fátima Monteiro.

De acordo com a coordenadora, o projeto não se restringirá às dependências do colégio. A ideia é que as crianças aprendam a cultivar e levem esses ensinamentos para suas casas, passando a plantar e a consumir alimentos mais saudáveis. “Muitas crianças vivem em apartamentos. Aqui elas estão tendo contato com a terra e, com o aprendizado adquirido, podem plantar dentro dos limites do espaço onde residem”.

Maria Roberta, 8 anos, ficou encantada com a iniciativa do colégio. “Eu fiquei muito feliz quando o tio Thelmo veio plantar com a gente. Eu moro em apartamento e planto algumas coisas, mas aqui eu posso muito mais. Eu me sinto uma jardineira de verdade”, disse a estudante.

Para Roney Daniel, 8 anos, o sabor do alimento é diferente quando plantado com as próprias mãos. “Depois do projeto eu passei a plantar em casa também. A gente planta e come. Até parece mais gostoso porque sou eu que planto. O momento que eu mais gosto do dia é quando eu venho no canteiro para cuidar das plantinhas. Eu me sinto aliviado”, falou o estudante.

A mãe de Roney, Daniela Costa, agente de polícia, também ficou empolgada com o projeto. “Em uma ida nossa ao supermercado ele pediu para comprar tomate-cereja. Quando chegou em casa plantou e não conseguiu nem esperar crescer, já queria colher e comer. Ele é muito da natureza, quer ser veterinário e ter mil cachorros. Essas são palavras dele”, declarou.

Para Flávio Feijó, presidente da Coopema, o desenvolvimento sustentável faz parte do processo de educação ambiental desenvolvido na escola. “Trabalhamos com nossos estudantes a sustentabilidade e o bem-estar, mas agora temos a oportunidade de sair da teoria e ir para a prática, onde a criança pode fazer o plantio e acompanhar o crescimento da planta, tudo com apoio técnico de especialista”, frisou.
 

TERAPIA

A contemplação e a integração com a natureza podem ter efeitos terapêuticos, promovendo sensação de bem-estar. De acordo com Fátima, o Verde Vivo na Minha Escola integra 12 estudantes em condições especiais e eles possuem um bom envolvimento com o projeto.

“Eles simplesmente se entregam, zelam pelo que produzem e desenvolvem um afeto pelas plantas. Alguns não conseguem ficar dentro da sala por muito tempo e precisam de um momento para caminhar pela escola. E, quando vamos ver, eles estão no canteiro, muitas vezes regando e cuidando das plantas ou apenas sentados, contemplando. É um espaço de terapia para eles”.
 

PRÓXIMOS PASSOS

Além da adubação orgânica, reaproveitando casca de ovo e pó de café, e da confecção de vasos e regadores reaproveitando garrafas pet, o Colégio São Lucas quer passar a reaproveitar a água dos condicionadores de ar. “Hoje essa água ainda é descartada, mas em breve ela estará sendo armazenada e reutilizada em um sistema de irrigação na horta”, afirmou Thelmo Moraes.

Com o crescimento veloz do projeto, a cooperativa tem pensado em fazer plantio das mudas também pela cidade e em outras cooperativas, exercitando o princípio cooperativista da intercooperação. “Nosso projeto está tomando grandes proporções e pensamos em fazer o plantio de uma parte dessas mudas pela cidade e em cooperativas para fortalecer e preservar o meio ambiente”, frisou Fátima Monteiro. (Fonte: Sistema OCB/AL)

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