ARTIGO: Um novo olhar para o Nordeste
* Tereza Cristina Corrêa da Costa Dias
Desde o início do governo, estamos cumprindo o compromisso de conferir ao Nordeste, com seus 57 milhões de habitantes, a atenção que merece. Sem demora, já em fevereiro, fizemos visitas técnicas ao interior do Piauí, do Rio Grande do Norte, do Ceará e da Paraíba —com destaque para o semiárido. Nesta semana, continuarei a ver de perto a realidade da agropecuária da região. Iremos, eu e minha equipe, a Sergipe e a Alagoas; e, em breve, também visitaremos Bahia, Pernambuco e Maranhão.
Estamos seguindo uma orientação do presidente Jair Bolsonaro (PSL), que, além de considerar o Nordeste prioritário, tem repetido uma frase aos seus ministros: “Mais Brasil, menos Brasília”. Nosso roteiro não é, portanto, aleatório: bem longe da capital federal, a mais de 2.000 quilômetros, fica, por exemplo, Cabaceiras, o município mais seco do país. Apesar das condições adversas, foi lá, no Cariri paraibano, que conheci uma experiência de associativismo exemplar, focada na caprinocultura sustentável, capaz de reter os jovens na cidade e de aumentar a renda das famílias, elevando, na última década, o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) municipal.
Já na primeira visita ao Nordeste tive a certeza de que é fundamental o apoio das grandes cooperativas do Sul às pequenas de lá –e, para isso, contaremos com a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). É assim que as pequenas associações, como as de Cabaceiras, podem crescer, ajudando a diminuir as disparidades regionais.
Retornei a Brasília também com a convicção de que precisamos urgentemente de uma política unificada de fomento à irrigação. Uma preocupação que é compartilhada por meu colega, o ministro do Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto.
Também na irrigação vi casos de sucesso no Nordeste. A tecnologia de gotejamento subterrâneo, desenvolvida primeiramente em Israel, está sendo usada no plantio de cana-de-açúcar na Paraíba, de acerola no Piauí, de flores no Ceará e de frutas no Rio do Grande do Norte. Experiências que, com financiamento para extensão de áreas irrigáveis, gerariam milhares de novos empregos. Já estamos conversando sobre isso com o Banco do Nordeste.
Primordial para a região, não basta que a água chegue para que os problemas se resolvam. Ela corre, por exemplo, em parte dos canais dos Tabuleiros Litorâneos, no Piauí, mas isso não foi suficiente para garantir renda aos pequenos produtores locais. Hoje, eles enfrentam dificuldades para manter e diversificar sua cadeia produtiva. Saber o que produzir e a quem vender é fundamental. Não se pode desperdiçar dinheiro do contribuinte em projetos que se percam no meio do caminho.
É preciso apoiar a agricultura familiar com assistência técnica e implantar a regularização fundiária dessas áreas para viabilizar acesso ao crédito bancário. No Ministério da Agricultura, isso já é parte do plano para o Nordeste —ação na qual não apenas nós, mas vários ministérios, estão empenhados. A expectativa é que este plano completo, sob coordenação da Casa Civil, seja divulgado ainda neste semestre.
Conheci empreendimentos modernos e inovadores, com culturas orgânicas, controle biológico de pragas, manejo sustentável e investimento em pesquisa. O Nordeste é, sem dúvida, parte do Brasil que trabalha duro para garantir que alimento de qualidade chegue à mesa.
Com o apoio de políticas eficientes, a região tem todas as condições de levar, cada vez mais, sua produção além de nossas fronteiras. É neste caminho da união, de buscar prosperidade para brasileiros de todas as regiões, que iremos perseverar.
* Tereza Cristina Corrêa da Costa Dias
Ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e deputada federal (DEM-MS) licenciada
Texto foi publicado na edição da Folha de S. Paulo desta quarta-feira (27/3)