29/09/2010 - Brasil semeia safra com preço elevado

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Giseli Cabrini

A pouca chuva não pode ser considerada a única culpado pelas altas de, respectivamente, 0,3% e 3,47% nos alimentos apuradas nas prévias de setembro do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) e do Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M). De acordo com especialistas ouvidos pelo Diário do Comércio, esses aumentos decorrem da dinâmica própria do agronegócio e do inverno marcado tradicionalmente pela entressafra do boi gordo e de algumas culturas em virtude de pastos e solos com pouca umidade. Mas, se as chuvas abaixo da média histórica persistirem nesta primavera, tudo indica que o clima promete ser o grande vilão da inflação no início de 2011.

"Não podemos falar que está havendo seca, mas sim chuvas abaixo da média histórica no Paraná (líder nacional na produção nacional de grãos, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE). No caso do Estado do Mato Grosso (outro importante polo agrícola e pecuário), o inverno é uma época tradicionalmente sem precipitações e com ocorrência frequente de queimadas", afirma a meteorologista do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), Ester Regina Ito.

La Niña – Ela, no entanto, faz algumas ressalvas. "É importante destacar que estamos sob influência do fenômeno climático global La Niña que se caracteriza por chuvas abaixo da média na região Sul e acima do usual no extremo Norte do País."

De acordo com Ester, os efeitos do fenômeno costumam se estender e as ferramentas disponíveis para prevê-los e medi-los só são confiáveis a partir de um intervalo de cerca de três meses à frente.

Nos últimos cinco anos, se observa a tendência de substituição de áreas de plantio de milho na primeira safra, por soja que é mais atraente pelo custo menor, maior resistência à falta de chuvas e melhor remuneração. A informação é do diretor do Departamento de Economia Rural do Paraná (Deral), Francisco Simioni.

Em relação ao feijão, de acordo com Simioni, embora a colheita anterior tenha sido menor, o aumento nos preços verificado atualmente é normal, fruto da entressafra. "O mercado não está tão desabastecido assim. Há feijão ainda em estoques com o governo, produtores, cerealistas e cooperativas", afirma o diretor.

Segundo dados do Deral, em 22 de setembro, as sacas de 60 quilos do milho e feijão estavam cotadas a, respectivamente,  R$ 17,92 e R$ 154,34 nas praças paranaenses. Há exatamente um ano, os preços eram de R$ 14,80 e R$ 67,16.

Safra das águas – Simioni, no entanto, alerta que a escassez de chuvas verificada no fim do inverno e início da primavera já compromete o plantio da chamada safra das águas – a mais importante – tanto do milho quanto do feijão para a temporada 2010/11. "Há um ano, 30% do plantio do milho e do feijão já havia sido feito nessa época do ano. Agora, esses índices são de respectivamente, 5% e 20%. No caso específico do milho, haverá redução de 15% na área plantada que será ocupada pela soja", diz.

Essa decisão –  recomendada inclusive pela Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (Seab) em virtude da falta de chuvas – influencia no resultado final do volume de produção, uma vez que o rendimento da soja equivale a 50% em relação ao do milho. Assim, a previsão é de que a safra de verão 2010/11 no Paraná poderá ficar cerca de 7% menor à anterior na produção dos três grãos mais cultivados soja, milho e feijão. O volume pode cair de 21,4 milhões de toneladas de grãos  colhidos na safra 2010 para 19,9 milhões de toneladas, em 2011.

Veículo: Diário do Comércio - São Paulo
Publicado em: 29/09/2010

 

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