22/04/2010 - Mercado interno ajuda a aumentar déficit da indústria

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Marta Watanabe, de São Paulo

O déficit da indústria de transformação se ampliou significativamente no primeiro trimestre de 2010 em relação ao mesmo período do ano anterior. Nos primeiros três meses do ano, o saldo negativo foi de US$ 7,7 bilhões. No ano passado, o déficit no período foi de 4,08 bilhões, o que significa crescimento de 89% , segundo dados da Secretaria de Desenvolvimento da Produção, vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). O quadro resulta de uma elevação muito maior nas importações pelas indústrias do que nos embarques. Enquanto as compras do exterior pelas indústrias cresceram 31,8%, as exportações aumentaram em 19,3%.

A ampliação do déficit da balança da indústria revela que o aumento nos desembarques de insumos tem sido provocado predominantemente pela produção ao mercado interno. No primeiro trimestre, a importação de matérias-primas e produtos intermediários cresceu 41,5% em valores. A participação desse tipo de bem nas importações totais aumentou de 46,3% para 48,2%.

"O desempenho dos primeiros meses mostra que é bem possível que tenhamos um recorde no déficit da balança da indústria de transformação em 2010", diz Rogério Cesar Souza, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Para ele, a deterioração da balança comercial da indústria de transformação deve se acentuar este ano. 

O processo iniciou-se em 2008, quando as importações foram impulsionadas pelo mercado interno e a desvalorização do dólar afetou a rentabilidade das exportações. Em 2008, a indústria teve o primeiro déficit, depois de sete anos seguidos de saldos positivos. No ano passado, o quadro se manteve, com déficit de US$ 16,4 bilhões, segundo dados do Mdic.

José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), diz que o resultado da balança industrial revela a alta demanda do mercado interno, aliada a uma taxa de câmbio que estimula as importações. De janeiro a março do ano passado, a taxa de câmbio média foi de dólar a R$ 2,3. No primeiro trimestre deste ano, a média ficou em R$ 1,8, uma valorização de 28,3% da moeda brasileira.

"Ao mesmo tempo em que o quadro contribui para o aumento de insumos importados, um mercado nacional aquecido desestimula exportações", diz Castro. Para ele, o saldo negativo deve persistir até o fim do ano, caso o cenário atual seja mantido. "Todos os indicadores vão nesse sentido", diz. Ele leva em consideração a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), que deve ter crescimento mínimo estimado em 5,5%.

Para Souza, do Iedi, a elevação do déficit nesse ritmo acelerado desnuda um problema estrutural, que só pode ser revertido com a aplicação de uma política industrial voltada para a produção de manufaturados com maior valor agregado.

Um caminho para conter esse déficit num prazo mais curto seria a elevação dos embarques de manufaturados. "A recuperação dos mercados externos consumidores de produtos brasileiros de maior valor agregado, porém, não tem acontecido no mesmo ritmo do crescimento do mercado interno", explica o economista. "Por isso, por enquanto a balança comercial geral do país tem registrado saldo positivo em razão das exportações de commodities."

Um dos segmentos com maior déficit no primeiro trimestre foi o de material elétrico e de comunicações. De janeiro a março de 2010, o setor teve saldo negativo de US$ 3,6 bilhões. No ano passado, no mesmo período, o déficit foi de US$ 2 bilhões, o que representa elevação de 75,9%. O crescimento se deve ao aumento das importações e à redução nos embarques. Enquanto o valor dos desembarques do setor cresceu 45,3% no período, as vendas ao exterior sofreram queda de 7,9%.

Humberto Barbato, presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), também credita ao mercado interno a ampliação do déficit do setor no primeiro trimestre de 2010. "As importações se aceleram em função de um crescimento que poderá ser superior às melhores expectativas."

Barbato diz que tendência indicado pelo primeiro trimestre lembra o alto crescimento do déficit da balança do segmento em 2008. "Em 2009, o déficit teve declínio, porque a crise afetou o consumo interno, mas neste ano a tendência deve ser retomada", explica. Pelas contas da Abinee, o déficit do setor no primeiro trimestre de 2010 foi de US$ 5,8 bilhões. Em igual período do ano passado, ficou em US$ 3,5 bilhões. O presidente da Abinee, lembra, porém, que a tendência do setor é originar déficits cada vez maiores, em função de um"

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