18/8/2009 - Marcadas pela crise, cooperativa e trading buscam retomada
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Mauro Zanatta e Patrick Cruz, de Brasília e São Paulo
A crise financeira mundial deixou marcas profundas em agroindústrias e cooperativas agropecuárias do país. O sumiço do capital de giro, no auge do aperto do crédito, provocou o adiamento de investimentos e a instabilidade global fez crescer o endividamento. À falta de liquidez, as alternativas foram fundir operações, vender unidades ou recorrer aos pedidos de recuperação judicial.
As cooperativas, que tinham planos de investir R$ 12 bilhões em 2008, decidiram empurrar quase todos os projetos para 2010. "O investimento parou. Ninguém está investindo e a retomada não vai ocorrer neste ano", diz o presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Márcio Lopes de Freitas. Um grupo de 150 cooperativas precisará, segundo ele, de "socorro especial" para reestruturar suas atividades com crédito de longo prazo. "O erro foi apostar demais no capital de giro sem ter crédito para financiar".
As tradings, que já enfrentavam problemas de caixa antes mesmo da crise global, tiveram que carregar altos estoques comprados a preços altos, viram suas dívidas aumentar e travaram algumas operações por falta de crédito. "O aumento das dívidas inviabilizou algumas operações", diz o presidente da Associação Brasileira de Agribusiness (Abag), Carlo Lovatelli.
Os efeitos da crise já são concretos. Algumas cooperativas ficaram pelo caminho e empresas agrícolas derraparam no aperto global. A multinacional Agrenco e as mato-grossenses Viana Trading e Grupo Guimarães entraram em recuperação judicial. A paranaense Sperafico arrendou e vendeu unidades.
No cooperativismo, a crise abriu espaço para fusões e parcerias. A mineira Cooxupé, a paulista Cocapec e a gaúcha Cooplantio incorporaram algumas concorrentes em suas áreas de atuação. No norte do Paraná, três cooperativas de crédito associaram-se na Sicredi União. Mas o aperto no crédito foi fatal para a Cooagri, de Dourados (MS). Segunda maior sociedade do Centro-Oeste, o grupo sucumbiu em definitivo após meses de agonia financeira.
Maléfica por si só, a crise econômica coincidiu ainda com uma severa estiagem no Sul do país e em Mato Grosso do Sul, em plena fase de desenvolvimento das lavouras na safra 2008/09. "Houve descapitalização [devido à crise], mas ela foi ainda maior por causa da seca", diz José Roberto Ricken, superintendente da Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar). "Somadas perdas das últimas cinco safras, perdemos uma safra inteira nesse período".
De outro lado, a crise fortaleceu o trabalho das centrais e dos consórcios cooperativos, como Itambé, Frimesa, Conagro e CCAB. "A crise do crédito não afetou, mas derrubou o mercado internacional com piora de preços e câmbio, o que nos obrigou a realocar a produção", diz o diretor de Relações Institucionais da Itambé, Ricardo Cotta.
Mesmo com o cenário negativo, garantia de entrega e qualidade do produto salvaram parte das vendas no exterior. As cooperativas, responsáveis por 40% do PIB agropecuário, devem manter o faturamento na faixa dos R$ 85 bilhões e as exportações em US$ 4 bilhões em 2009. O aquecimento do mercado interno, os bons preços externos e agregação de valor serão fundamentais.
"No início de 2009, quem chegasse a dezembro estava feliz. Agora, já dá para chegar com algum fôlego até lá", diz Márcio Lopes, da OCB. "Não é ano de vitória, mas de sobreviver. Quem tiver gordura, vai deixar como capital de giro". O desafio, depois da capitalização, será investir em gestão, planejamento, promoção comercial, reestruturação patrimonial e recuperação financeira.
Na crise, o papel do governo ajudou na travessia do momento mais agudo. Foram criadas linhas de crédito de R$ 15 bilhões exclusivas para as cooperativas, além de reserva de mercado para atender demanda da merenda escolar, mercado estimado em R$ 600 milhões neste ano.
As agroindústrias afirmam que a reação em cadeia foi menor por causa dessa intervenção oficial. Os preços reagiram pela quebra da safra argentina e houve redução de estoques mundiais. "O governo apertou e os bancos liberaram crédito, sobretudo o Banco do Brasil. Iríamos sentir muito na próxima safra", avalia Carlo Lovatelli, da Abag.
Ainda que os recursos tenham surgido, muitos tomadores esbarraram na falta de limite para a obtenção desse dinheiro. "E isso deve permanecer", avalia Edivaldo Del Grande, presidente da Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo (Ocesp). "Muita gente vai ser afetada, principalmente os pequenos e médios, porque não tem como tomar os recursos. É possível até que sobre dinheiro", afirma.
Uma linha de R$ 10 bilhões foi oferecida para capitalização de agroindústrias e co"