10/8/2009 - Cooperativa de crédito cresce em meio à crise
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Renato Andrade, Brasília
As cooperativas de crédito colocaram em prática, durante a crise financeira global, uma das máximas do mundo dos negócios: aproveitar os momentos ruins para crescer. Enquanto o mercado de crédito encolhia no último trimestre de 2008, o volume de empréstimos das cooperativas crescia. Mesmo com a retomada do fluxo das operações por parte dos bancos no primeiro semestre de 2009, essas entidades continuaram expandindo os negócios.
De acordo com levantamento feito pela Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), a pedido do Estado, a carteira de crédito do setor apresentou expansão mensal constante em 2008. Em janeiro passado, o volume de recursos somava R$ 16,4 bilhões, valor que saltou para R$ 19,4 bilhões em agosto e manteve-se acima de R$ 21 bilhões nos três últimos meses do ano, período de maior retração na oferta de financiamento. "Os micro e pequenos empreendedores foram buscar outras fontes de crédito e as cooperativas absorveram parte do movimento", explica Silvio Giusti, especialista em mercados da OCB.
Cooperativas como a do município mineiro São Roque de Minas chegaram a usar recursos próprios para manter o fluxo de financiamento para seus clientes. "Na hora da crise é que a gente tem de atender o cooperado", afirma João Carlos Leite, presidente da entidade.
A retomada dos financiamentos por outras instituições financeiras não impediu que a carteira de crédito das cooperativas continuasse a crescer. Segundo a OCB, as operações de crédito das cooperativas somaram R$ 22,1 bilhões em junho.
Parte dessa evolução tem sido puxada pelas cooperativas de crédito de livre admissão. Essa modalidade tem um horizonte mais amplo de atendimento, pois não é obrigada a operar com um segmento específico ou um único setor da economia. Autorizadas a funcionar desde 2003, essas cooperativas até junho já somavam 164
Segundo Giusti, a "transformação" de antigas cooperativas de crédito rural em livre admissão deve fortalecer a expansão. Em 2004, havia 475 cooperativas de crédito rural no Brasil, número que se reduziu para 375 em dezembro do ano passado. "A maioria delas migrou para o ambiente de cooperativas de crédito de livre admissão, potencializando sua atuação", explica.
As cooperativas de livre admissão administram cerca de 29% dos ativos totais do segmento - que totalizaram R$ 47,8 bilhões em junho - e respondem por 40% das operações de créditos, 40% dos depósitos e 28% do patrimônio do setor, segundo dados da OCB.
Setor quer mudar lei para atuar em cidades grandes
Renato Andrade
As cooperativas de crédito vão solicitar ao Conselho Monetário Nacional (CMN), órgão deliberativo máximo do Sistema Financeiro Nacional, a eliminação da regra que impede a atuação das entidades em municípios com população superior a 2 milhões de habitantes.
A proposta das cooperativas, que deve ser encaminhada ao órgão em outubro, fará parte de uma minuta que vem sendo discutida pelo setor sobre os ajustes que deverão ser feitos na resolução do Conselho que regulamenta o funcionamento dessas entidades.
O ajuste, de acordo com as cooperativas, se faz necessário por causa da Lei Complementar número 130, sancionada em abril pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A lei regulamenta o sistema nacional de crédito cooperativo, explicou Silvio Giusti, especialista de mercados da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB).
"Estamos num processo de levantamento de sugestões que serão encaminhadas ao CMN porque, com a lei específica, o conselho terá de ajustar sua resolução", disse Giusti. Pelas regras vigentes, a atuação das cooperativas é dividida em três grupos. Elas podem atuar em municípios pequenos, com até 300 mil habitantes, nas cidades de médio porte, com população entre 300 mil e 750 mil, e nas de grande porte, limitadas a até 2 milhões de habitantes.
"Queremos o livre acesso ao mercado", explicou Giusti. "O avanço para municípios com 5 milhões ou 10 milhões de habitantes vai depender unicamente de nós, do processo de maturação e desenvolvimento dos negócios das cooperativas", disse.
Em São Roque de Minas, operação no lugar de banco
Renato Andrade, BRASÍLIA
A história de São Roque de Minas se confunde com seu "morador" mais ilustre, o rio São Francisco, que nasce na Serra da Canastra, onde o pequeno município mineiro está encravado. No universo do cooperativismo de crédito, entretanto, a antiga terra dos índios cataguases tem história própria.
A cidade de pouco mais de 6 mil habitantes, a 320 quilômetros de Belo Horizonte, não tem agência bancária desde 1991. Mas os moradores não deixaram de ter acesso aos serviços tradicionalmente ofe"