01/04/2010 - Juro alto beneficia as cooperativas de crédito
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José Guerra
SÃO PAULO - A esperada alta da taxa básica de juros (Selic) pelo Banco Central pode impulsionar o crescimento das cooperativas de crédito a um patamar superior à média do sistema financeiro nacional (SFN). Sem objetivo de lucro e distribuição de dividendos, essas entidades esperam ser uma alternativa principalmente ao pequeno e médio empresário, e crescer até 30% em ativos e em crédito.
Segundo o gerente de Relacionamento e Desenvolvimento do Cooperativismo de Crédito da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Sílvio Giusti, por não ter o lucro como parte de seu spread, as cooperativas podem oferecer taxas de juros mais baixas. "Há uma margem de custos da operação e contribuição que é revertida em investimentos nas cooperativas", diz. O gerente projeta um crescimento de 25% a 30% de ativos, patrimônio, depósitos e carteira de crédito, ante uma expansão de entre 15% e 20% no SFN. "Com a retração do crédito no último quadrimestre de 2008, as cooperativas tiveram um crescimento bastante agressivo. Isso porque as micro e pequenas empresas viram nas cooperativas uma fonte alternativa", afirma.
Atualmente, a participação das cooperativas no sistema financeiro ainda é baixa, abaixo de 2%. No entanto, o sistema cooperativo registrou crescimento superior ao do SFN em 2009. Segundo dados do Banco Central, trabalhados pela OCB, as cooperativas de crédito tiveram um crescimento de 18,51% em seus ativos, a um saldo de R$ 52,8 bilhões, ante expansão de 9,29% dos ativos do SFN.
Em depósitos, as cooperativas tiveram um crescimento de 16,8%, a R$ 22,2 bilhões, enquanto o SFN registrou alta de 3,85%. "Esse crescimento mostra como as cooperativas são competentes e conseguem manter taxas de rentabilidade atrativas para os cooperados", compara Giusti. Em relação ao patrimônio, o crescimento foi de 20%, a R$ 11,3 bilhões, ante 15% do SFN.
Ainda segundo dados trabalhados pela organização, o crédito foi o único indicador com um crescimento menor que o SFN, 15,09%, a saldo de R$ 3,4 bilhões, contra 18,45%, a R$ 1,410 trilhão. Segundo Giusti, isso ocorreu devido ao fato de as cooperativas terem atuação pequena em ramos que impulsionaram os empréstimos em 2009, como os empréstimos habitacionais, de veículos e consignado. "Esses foram os mecanismos de reaquecimento do consumo e são nichos em que as cooperativas não são tão fortes."
Segundo dados do BC, o financiamento imobiliário teve um crescimento de 40,6%, a saldo total de R$ 88,970 bilhões. Já o consignado apresentou expansão de 34,6% a R$ 106,173 bilhões, enquanto o de veículos cresceu 12,9% a R$ 157,135.
Segundo ele, com a isenção do imposto sobre produtos industrializados na aquisição de autos, impulsionou uma linha pouco trabalhada pelas cooperativas. No caso do empréstimo com desconto em folha de pagamentos, Giusti diz que a aquisição das folhas de grande parte dos estados e municípios por grandes bancos, inviabilizou a atuação do sistema cooperativo nesta área.
No imobiliário, "o sistema cooperativo ainda não trabalha tão fortemente, porém há perspectivas de aumentar a atuação".
No crédito rural, o total chegou a R$ 7,276 bilhões, crescimento de 17,3% ante 2008. No segmento, o crédito direcionado teve uma queda de 16%, a R$ 4,184 bilhões, enquanto o livre cresceu 159,2%.
Financiamento imobiliário é alvo do setor
Com uma atuação cada vez maior em áreas urbanas, o sistema cooperativo espera aumentar sua participação no crédito imobiliário.
Segundo o gerente de Relacionamento e Desenvolvimento do Cooperativismo de Crédito da OCB, Sílvio Giusti, com a possibilidade de formar cooperativas de livre admissão desde 2003, as cooperativas passaram a ter uma atuação cada vez mais agressiva no setor urbano. A possibilidade de formação dessas associações ainda está limitada a municípios com 2 milhões de habitantes, "mas a OCB está em interlocução com o Banco Central para que, em uma nova resolução, [...] não haja esse limitador", diz a associação em comunicado. Em 2004, existia apenas uma associação com esse viés; em 2008, 153, e ao fim de 2009, 186.
A perspectiva é estar dentro do processo de evolução do crédito imobiliário, que deve crescer de uma representatividade de 3% do PIB à participação de dois dígitos nos próximos anos.
Veículo: DCI
Publicado em: 01/04/2010