MG | Onde tudo começou
Com a proposta de mostrar a força do cooperativismo em Minas Gerais, a décima edição do Dia de Cooperar no estado, garantiu um sábado de muita diversão e informação para quem passou pela Praça Carlos Chagas, também conhecida como Praça da Assembleia, em Belo Horizonte. O encontro, que já está consolidado no calendário da capital, contou com um público de aproximadamente 4 mil pessoas e reuniu, neste ano, 19 cooperativas de diferentes regiões do estado, para um momento de celebração das iniciativas que beneficiam milhares de pessoas por meio do simples ato de cooperar.
Promovido em Minas Gerais desde 2009, o Dia C tem se tornado uma verdadeira vitrine para o trabalho das mais de 280 entidades que integram a rede cooperativa em Minas. Foi desde 2014 que o movimento ganhou escala nacional, sendo realizado de forma simultânea em todos os estados da federação. Na capital mineira, a programação se estendeu com atividades culturais gratuitas, reunindo show da banda Putz Grila e apresentações artísticas.
Muito mais do que um dia para celebrar ações cooperativistas, o Dia C é um momento de estreitar laços entre cooperativas e ampliar o diálogo com o cidadão. Para este ano, o Sistema Ocemg organizou as atividades por espaços temáticos, dando destaque para áreas de atuação de cada cooperativa. No “Espaço Lazer”, por exemplo, pais e filhos puderam aproveitar toda a manhã de sábado, e o início da tarde, com brincadeiras, oficinas de recreação circenses, entre outras atividades.
Já o “Espaço Educação e Sustentabilidade” foi dedicado à doação e troca de livros e descarte de lixo eletrônico. No “Espaço Saúde e Bem-Estar”, massagens, aferimento de pressão arterial e outros serviços pontuais em saúde. Um dos mais concorridos, o “Espaço Degustação Cooperativista” apresentou as delícias culinárias que fazem da gastronomia mineira uma das mais tradicionais do Brasil. E, no “Espaço Geração de Trabalho e Renda”, o público pode conhecer produtos e serviços das cooperativas que geram renda, movimentando a economia dos municípios.
Foi nesse espaço, inclusive, que a secretária Claudiane Speziali passou a maior parte do tempo. Interessada nos cristais de quartzo trazidos pela cooperativa Uniquartz, ela descobriu que os minerais carregam muito mais funções do que a simples energização de ambientes. “Eu não fazia ideia de que o cristal tinha outras funções. Quer dizer, dá para acreditar que uma pedra tão bonita também pode estar na tela do celular?”, comentou.
Ela ficou sabendo do Dia C após participar de um seminário patrocinado pelo Sistema Ocemg, e decidiu visitar a Praça da Assembleia. “Foi pura curiosidade porque a gente escuta falar sobre o cooperativismo, mas não entende como ele funciona, na prática. Então eu achei que valia a pena aproveitar o sábado aqui”, disse Claudiane. Ao conhecer as várias ações em benefício da população, a secretária elogiou não apenas as práticas, mas também a própria iniciativa do Dia C. “Eu achei ótimo. Além das iniciativas que vi que essas cooperativas realizam, deviam promover mais festas como essa’’, brincou.
Claudiane descobriu as inúmeras funções do quartzo após uma longa conversa com Enio Trindade, diretor administrativo da cooperativa. Embora a Uniquartz já participe da celebração desde 2016, essa foi a primeira vez que Enio saiu de Corinto, região central do estado, onde funciona a sede da entidade, para participar evento. Na capital, além de conversar com o público sobre seu trabalho, Enio viu a oportunidade de entrar em contato com outras cooperativas e cooperados.
“Essa conversa com os outros só é possível graças ao movimento. Ficamos tão concentrados no nosso trabalho que, às vezes, esquecemos que todas as pessoas são beneficiadas pelo próprio cooperativismo”, destacou. A Uniquartz surgiu, em 2011, para formalizar o trabalho de garimpeiros, mineradores e lapidários em Corinto. Após sete anos de atividades, a cooperativa já comemora os bons resultados, com filiais nos seis maiores municípios mineradores da região e garantindo o sustendo de aproximadamente 120 trabalhadores.
Cuidado com o meio ambiente
Além de tirar centenas de mineradores da informalidade, a cooperativa baseia todas as atividades no conceito de sustentabilidade, algo raro para o ramo de atuação, como explica Enio. De acordo com o diretor, a Uniquartz segue um padrão para realizar seu ofício extrativista: o retorno para a sociedade. ““Desde que fundamos a cooperativa, nossa maior preocupação tem sido a questão ambiental. Por isso, após o fim do trabalho em uma determinada região, nós recuperamos a área, plantando mudas de árvores típicas. É o nosso legado, que vai além da geração de renda e formalização da profissão”, pontuou.
É esse o tipo de percepção que torna o Dia C tão necessário para as cooperativas, como explica o presidente do Sistema Ocemg, Ronaldo Scucato. O evento exterioriza, em um único dia, todos os benefícios que as práticas cooperativistas geram para os cidadãos. “O cooperativismo é extremamente modesto, faz as coisas, trabalha muito, transforma vidas e fica calado, não avisa o que faz. Então, nós decidimos organizar o Dia C para que pudéssemos divulgar nossos projetos, mas deixando claro que o que é visto em um dia acontece o ano inteiro”, pontuou Scucato.
Somente em 2017, mais de 2 milhões de pessoas foram beneficiadas pelo trabalho de cooperativas em todo o Brasil. As iniciativas vão desde ruas de lazer, ações de cuidados com a saúde, orientações financeiras, reflorestamento, até reformas de instituições e atividades lúdicas e recreativas em entidades beneficentes. A cooperada Amanda Dias é mais uma na lista. Natural de Raposos, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, ela se formou no ensino médio há dois anos e garantiu um emprego na Dedos de Gente. Amanda trabalha na fabriqueta de Jardinagem, onde aprende a aplicar conceitos sustentáveis na sua rotina, tanto dentro quanto fora da cooperativa. “Eu aprendi a separar melhor o lixo e isso é uma coisa que eu passo para meus amigos, minha família. A gente fala com a comunidade sobre a reciclagem e o pessoal ajuda a gente nisso bastante”, comentou a jovem.
Para Amanda, a oportunidade de ter encontrado o primeiro emprego em uma cooperativa a ensinou conceitos que ultrapassam a barreira profissional. “Adolescente é meio ‘revoltado’ com tudo, né? Só que quando eu entrei, eu aprendi a ter mais postura, ter mais consciência no meu dia a dia. Aí eu já percebo que não somente comigo, mas com os outros meninos que trabalham lá, o jeito muda, a maneira de se comportar, de ter um cuidado com a nossa cidade, não jogar o lixo no chão. Tudo isso eu aprendi lá dentro e foi muito importante na minha vida”, disse.
Por: Vitor Cruz