Matriz energética brasileira vira case mundial na COP26

Representantes do Governo Federal apresentaram dados sobre energia renovável. Indicadores precisam avançar ainda mais para o País alcançar metas de zero carbono Com um território continental, vastas riquezas naturais e condições climáticas e de fertilidade de solo favoráveis, o Brasil supera a demanda de energia total estimada para os próximos 30 anos. No entanto, há desafios em curso para se alcançar a neutralidade de carbono em 2050 — meta acordada no Acordo de Paris e reforçada em debates que ocorrem na 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP26), que ocorre na cidade de escocesa de Glasgow. A ideia é manter o aumento da temperatura planetária a no máximo 1,5 Grau Celsius em relação aos níveis pré-industriais. As políticas do governo brasileiro no tocante à política energética foram apresentadas nesta quinta-feira (4) por representantes do Ministério de Minas e Energia (MME). O ministro Bento Albuquerque protagonizou a mesa “Crescimento Verde”, apontando ações em andamento e perspectivas futuras das políticas públicas. Entre as medidas apresentadas pelo ministro, estão os programas “Combustível do Futuro” e do “Hidrogênio”. O primeiro deles visa ampliar o uso de combustíveis sustentáveis e de baixa intensidade de carbono. Entre os objetivos específicos do programa estão: redução da intensidade média de carbono da matriz de combustíveis redução das emissões em todos os modos de transporte e incremento da eficiência energética. Já o Programa Nacional do Hidrogênio apresenta a construção da estratégia brasileira de desenvolvimento do hidrogênio, considerado um vetor que possibilita o armazenamento de energia e favorece especialmente setores como indústria e transporte que, juntos, consomem dois terços da energia do Brasil. “O futuro desse setor está pautado pelas políticas públicas que vamos implementar. O Brasil já é considerado uma referência mundial e seremos protagonistas, fruto das energias renováveis em nossa matriz energética. De qualquer forma, a transição energética do mundo tem que passar por um esforço coletivo, baseada fundamentalmente em cooperação”, afirmou Bento Albuquerque. SUPERANDO A ESCASSEZ De acordo com o Plano Nacional de Energia (PNE 2050) do MME, as expansões da oferta e de consumo de energia se farão de forma sustentável no futuro próximo, com a manutenção dos indicadores de renováveis: entre 45 e 50% na matriz energética, e entre 80 e 85% na matriz de geração elétrica. O ministro de Minas e Energia ainda citou a diversidade dessa matriz renovável brasileira, que superou “a maior escassez hídrica que o País já teve”, iniciada em outubro de 2020. “Conseguimos superar essa fase de escassez mantendo a segurança energética do nosso país. E as fontes de energia eólica e solar foram fundamentais nesse processo”, exemplificou. Atualmente, as duas fontes representam 13,43% do total de matriz energética do País. Segundo Bento Albuquerque, a estimativa é que elas cheguem a 25% dessa participação já em 2030. Vinculada ao MME, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) subsidia o Governo Federal no planejamento do setor, por meio de estudos e pesquisas. Segundo o presidente da instituição, Thiago Barral, o Brasil tem uma posição de destaque global quando se fala em energias renováveis. No entanto, as metas de desenvolvimento sustentável, que incluem a neutralidade do carbono, exigem uma força-tarefa para serem conquistadas. “Não podemos ficar acomodados com esse patamar. O acesso a serviços energéticos vai crescer no Brasil, para sustentar o desenvolvimento. E não é possível atingir neutralidade apenas com energia renovável e biocombustível. Outras tecnologias são necessárias e elas serão alcançadas, também, por meio da implementação de políticas nesse sentido”. O técnico expôs dados trabalhados pela EPE na mesa “Brasil: País da energia limpa!”, também nesta quinta-feira (4), na COP26. BRASIL MAIS SUSTENTÁVEL Um dos parâmetros utilizados pela EPE para medir a vantagem competitiva do Brasil é a emissão de CO2 por habitante. A emissão de um brasileiro, segundo Barral, equivale a 1/7 daquela gerada por um norte-americano e 1/3 da emissão de um europeu. “Por qualquer que seja a perspectiva do perfil de emissões relacionada ao setor de energia no Brasil, o patamar se mostra abaixo de outras economias com as quais a gente pode se comparar. É uma condição excepcional de fontes renováveis”, afirmou. Ainda assim, o país continua no processo de transição energética, reforçou o presidente da EPE. Para isso, o Brasil vem consolidando um portfolio de oferta de energia, com o objetivo vai trazer segurança energética com renovabilidade. “Veremos um papel crescente das energias eólica e solar, por exemplo. Assim, vamos investir em sistemas de transmissão para entregar esses recursos distribuídos em um cenário continental. É preciso tirar proveito desses recursos e da complementaridade deles”, destacou. De acordo com o ministro Bento Albuquerque, apenas o potencial da energia eólica offshore, ou seja, obtida em alto-mar, chega a 700 gigawatts na costa brasileira, o que representa quatro vezes a capacidade total de energia já instalada no País. EFICIÊNCIA ENERGÉTICA No painel “Brasil: o país em que a eficiência energética já é realidade no setor elétrico”, ocorrido durante a COP26, representantes do Governo Federal ainda reforçaram a importância dessa eficiência para o desenvolvimento sustentável. O diretor do Departamento de Desenvolvimento Energético do MME, Carlos Alexandre Príncipe Pires, abordou a necessidade de se considerar uma questão cultural do Brasil, ao elaborar políticas de eficiência. “Existe uma questão cultural que se vislumbra que os ganhos de eficiência não são tão importantes, o que importa é o aumento do tamanho do negócio”, explicou. Para enfrentar essa questão considerada estrutural, o gestor desenvolve projetos que ingressam na seara da pequena e média empresa, levando informação e possibilidades de financiamento. A eficiência energética de prédios públicos também é alvo das políticas de eficiência energética do MME. O diretor do Departamento de Estudo Econômicos do MME, Giovani Vitória Machado, também reforçou que a eficiência energética cumpre relevante papel não apenas em ganhos econômicos, mas também na descarbonização. “São menos recursos energéticos e materiais, trazendo ganhos financeiros e econômicos para empresas e famílias, para quem tiver implementando eficiência energética. Quanto maior a competição, mais importante será a eficiência energética para se ter um padrão competitivo como diferencial de mercado. E conhecer a sua curva de carga não apenas gera valor para o negócio, mas também impacta favoravelmente os indicadores mais macros de eficiência energética.”, finalizou.

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