Parcerias inovadoras

  Inovação tem tudo a ver com o cooperativismo – especialmente no momento atual. Um século antes de a economia colaborativa virar tendência, as cooperativas de todo o mundo já trabalhavam com os conceitos de sustentabilidade, responsabilidade social e consumo consciente. E, para continuarmos na vanguarda do mundo dos negócios, nos últimos quatro anos, cresceu o movimento de aproximação de cooperativas às chamadas startups. Objetivo? Nós nos reinventarmos, sem perdermos a essência dos princípios cooperativistas. Uma mudança sintonizada ao momento em que o ecossistema de inovação brasileiro vem crescendo em diferentes regiões do país, e atraindo vários setores para os polos de tecnologia que agregam startupse outros empreendimentos inovadores. Seja para atualizar processos administrativos, facilitar o acesso de usuários a produtos e serviços, ou ampliar possibilidades de negócios, as parcerias com startupstêm rendido bons frutos para o cooperativismo, como mostram diferentes experiências no país. Uma das primeiras cooperativas a entrar nesse movimento de renovação foi a Sicredi Pioneira, cooperativa de crédito mais antiga em funcionamento no país, fundada em 1902. Com mais de 156 mil associados, é uma das mais ativas quanto o assunto é inovação. Desde 2018, a entidade conta com uma gerência específica de Estratégia e Inovação. olon Stapassola Stahll, diretor executivo da cooperativa, relata:
Estamos completando dois anos dessa gerência [Estratégia e Inovação] e, de fato, ela acelerou bastante a estratégia. Fomos inseridos no ecossistema de inovação, tanto da região do Vale dos Sinos quanto da região de Caxias do Sul, e fizemos contato com startups e fintechs
Solon enfatiza que, quando a cooperativa passou dos 110 anos, a equipe sentiu necessidade de buscar as startupspara responder “às dores” dos clientes, dos cooperados e dos colaboradores. Em vez de criar as soluções dentro da cooperativa — o que poderia levar tempo e gerar custos excessivos —, a ideia da nova gerência foi se aproximar de startupsque já tinham soluções prontas para os problemas identificados no associativismo.   MAIS EFICIÊNCIA De 2018 para cá, a Sicredi Pioneira lançou três produtos em parceria com startups. O primeiro deles foi uma plataforma digital para financiamento de veículos.Por meio dela,  cooperados e não cooperados podem acessar as formas de crédito para financiar um veículo. Funciona assim: o interessado vai a uma loja revendedora de veículos, escolhe um carro e sai de lá com o financiamento feito de forma totalmente digital, sem precisar ir à agência. O sistema deu tão certo que já está sendo implementado em lojas de materiais de construção. A plataforma tem gerado de R$  2 a 3 milhões por mês, de forma totalmente digital, sem envolvimento físico de nenhum colaborador. “Há um ganho de resultado e mais negócios com eficiência total; não envolve nenhum papel, nenhum contrato, nada. É tudo na revenda”, comenta Solon.   TRANSFORMAÇÃO DIGITAL O segundo produto que a Sicredi Pioneira colocou no ar, em parceria com startups do Rio Grande do Sul, foi o aplicativo chamado Goog. Inspirada no Google, a ferramenta de busca facilitou o acesso a todas as informações sobre produtos, manuais, regras e políticas da cooperativa que devem ser lidas diariamente pelos colaboradores. O aplicativo obedece a comando de voz e pode ser usado em desktope celular. A ferramenta tornou-se a principal forma de orientação na palma da mão do colaborador, gerando redução de custos com pessoal e mais agilidade na disseminação de informações. “Essa é uma grande entrega, completa agora um ano de lançamento e está em pleno funcionamento. Foi uma revolução gigantesca levar o conhecimento para o colaborador, reduzindo drasticamente o volume de suporte da cooperativa”, disse Solon.       [caption id="attachment_75484" align="aligncenter" width="797"] Crédito: ShutterStock[/caption]       GERAÇÃO DE NOVOS NEGÓCIOS   Em parceria com outra fintech do Rio Grande do Sul, a cooperativa lançou o aplicativo do programa de fidelidade, chamado Juntos. A iniciativa é similar aos sistemas de milhagem de cartões de crédito e foi idealizada para premiar o associado fiel à cooperativa. A cada produto adquirido pelo usuário, ele recebe pontos, que não expiram e podem ser trocados por brindes ou serviços disponíveis em um catálogo no aplicativo. “Ele é muito similar ao sistema de milhagem de cartões, mas com algumas vantagens. No nosso caso, cada produto vale um ponto e cada ponto, um real, que você pode trocar. É gerado um voucher eletrônico, não precisa imprimir nada; ele chega na loja, no restaurante, bar ou hotel e vai receber o desconto de acordo com os pontos que ele tinha”, explica Solon. O aplicativo já tem mais de 35 mil downloads,e a meta é chegar a 50 mil até o fim deste ano. Tanto o Goog quanto o Juntos já estão atraindo o interesse de outras cooperativas, e motivando a venda e implementação das soluções em outras empresas da região. “Isso foi possível porque entramos nesse ambiente de inovação e fizemos muitas conexões com muita gente do Brasil inteiro ligada nesse movimento. Conseguimos colocar a Pioneira entre os principais playersde inovação da região”, destaca Solon.   MODERNIZAÇÃO DA IMAGEM Além da geração de novos negócios, o diretor aponta que esses novos aplicativos ampliaram a oferta de soluções e o aumento da fidelização dos associados. Outro ganho destacado pela direção foi percebido na marca Sicredi, que tem conquistado mais relevância e está com a imagem mais associada à modernidade. A mudança tem atraído talentos profissionais, principalmente jovens. “A Sicredi mudou aquela imagem de cooperativa financeira centenária, ligada só ao agronegócio, e passa a ser agora uma empresa com uma imagem de inovação que a gente não tinha antes”, disse. Internamente, a inovação também está provocando mudanças na cooperativa, que agora vê o tema como um valor cultural. Os colaboradores estão mais engajados com os propósitos da cooperativa e usam cada vez mais técnicas de design thinking para resolver um problema, metodologias ágeis para elaborar um projeto, entre outros processos adquiridos da conexão com as startups nos últimos anos. Disse Solon.
Nesse movimento, nós aprendemos que não precisamos ter todas as respostas prontas dentro da cooperativa. Podemos usar da força de um ecossistema gigantesco de startups e fintechs no Brasil, ou nos associar a fintechs com soluções prontas. Aprendemos também que o ecossistema de inovação tem características muito nobres; é um mundo muito aberto, onde as pessoas compartilham informação, não escondem conhecimento, que não nos vê como concorrentes, mas sim como parceiros”
 
Essa matéria foi escrita por Débora Brito e publicada na edição 29 da revista Saber Cooperar.Leia a reportagem na íntegra.
 

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