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Lugar de mulher é no cooperativismo

  Ampliar a participação feminina no mercado de trabalho e nos espaços de decisão tem sido uma luta abraçada por todo o mundo. Não seria diferente no cooperativismo, modelo de negócios regido por princípios e valores cuja filosofia é buscar um mundo mais igualitário. Apesar de avanços importantes nos últimos anos, não há país no mundo em que exista igualdade econômica entre homens e mulheres. E são as mulheres que estão mais vulneráveis a viver na pobreza. Um estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) revelou que, em média, as mulheres recebem 17% a menos por hora de trabalho na América Latina. No Brasil, a diferença é ainda maior: chega a 25%. Segundo o relatório, 80% das tarefas domésticas são feitas por mulheres, o que impede a inserção e a permanência delas no mercado de trabalho, além de marcar sua presença em empregos de menor remuneração e maior flexibilidade. No Brasil, a taxa de participação feminina no mercado de trabalho é de 52,3%, enquanto a masculina é de 72%. Nos últimos anos, o panorama geral é de redução da desigualdade salarial e maior participação das mulheres no mercado de trabalho. Os processos de mudança, entretanto, têm ocorrido em ritmo muito lento, alerta a OIT. COMITÊ DE GÊNERO Na busca por um lugar mais justo, equilibrado e com melhores oportunidades para todos, o cooperativismo está atento à necessidade de acelerar e modificar (para melhor) a situação das mulheres. E essa é uma mudança que está sendo feita de forma global. É por isso que a Aliança Cooperativa Internacional (ACI) — entidade internacional da qual o Sistema OCB faz parte — criou um comitê de gênero mundial. Segundo a presidente do Comitê de Equidade da ACI, Maria Eugenia Pérez, o intuito é implementar um plano de trabalho que gira sobre 3 eixos:
  1. Normativo — com foco na sugestão de regras que priorizem a igualdade de gênero dentro das instituições cooperativas;
  2. Combate à violência doméstica e violência contra as mulheres — voltado à prevenção desse tipo de agressão, bem como ao apoio e ao acolhimento de cooperadas e colaboradoras cooperativistas que sofram com esse tipo de violência.
  3. Planejamento de projetos produtivos para mulheres — desenvolvimento de projetos e iniciativas capazes de ajudar a inclusão econômica feminina dentro do cooperativismo destaca a colombiana.
Esperamos que as organizações cooperativas de todo o mundo vejam a relevância do que significa trabalhar com as mulheres, estimulando projetos produtivos feitos para elas, com a intenção de colaborar com a inclusão econômica global desse público”
Maria Eugênia aponta, ainda, a importância de as normas cooperativas preverem políticas de fomento à equidade de gênero nos cargos de direção, bem como o empoderamento das mulheres. “Já no tema violência contra mulheres, queremos que as cooperativas assumam protocolos com seus associados e colaboradores para prevenir a violência de gênero. E que hajam normas que favoreçam a participação feminina no interior das cooperativas”, completou Maria Eugenia, que também é diretora executiva da Associação Colombiana de Cooperativas. As organizações de cooperativas dos diferentes países podem se inscrever para fazer parte do Comitê de Equidade como membro. Hoje, o comitê é formado por integrantes da República Dominicana, Índia, Finlândia, Espanha, Bulgária e África do Sul. [caption id="" align="alignnone" width="1200"] Crédito: ShutterStock[/caption]
BOAS PRÁTICAS
A ACI vem desenvolvendo estratégias — a partir do plano de trabalho do comitê de gênero — para ampliar a participação e a visibilidade das mulheres no interior das organizações de representação cooperativistas. O desafio é fazê-las participar, de maneira igualitária e equitativa, nos organismos de decisão e de poder do nosso movimento. Desde 2018, a ACI criou políticas internas que preveem o aumento do número de mulheres em seus conselhos. Além disso, ficou estabelecido que a presidente do Comitê de Equidade faça parte do Conselho de Administração da ACI. Maria Eugenia lembra que, na história recente, “tivemos mulheres como Pauline Green e Monique Leroux que ocuparam os cargos de presidente do Conselho de Administração da ACI e presidente da ACI Mundial”.  MAIS INCLUSÃO Em todo o mundo, as cooperativas são mais inclusivas do que outros modelos econômicos e dão mais oportunidades às mulheres para enfrentar as barreiras que frustram a igualdade de gênero. Relembra a presidente do comitê, Maria Eugenia  
Não podemos esquecer que as cooperativas foram as primeiras formas empresariais e associativas que efetivamente deram  à mulher igualdade de direitos com os homens e deram a oportunidade de pertencer a uma empresa, de fazer parte, de ser dona de uma empresa”
O cooperativismo, desde sua criação, tentou assegurar, a mulheres e homens, igualdade de oportunidades. “Ainda que tenhamos avançado de forma fundamental nos últimos  30 anos, nós temos hoje a responsabilidade de reclamar alguns espaços que não foram possíveis para as mulheres anteriormente, como de administração, de direção. Antes, era raro encontrar uma mulher que participava desses cargos administrativos. Avançamos ao ponto de já ter nesses lugares mulheres que ocuparam uma presidência mundial. Muitas mulheres são gerentes, muitas são presidentes de conselhos”, analisa Maria Eugenia sobre o quadro do cooperativismo no mundo.   PODER PARA ELAS Na avaliação da colombiana, a presença de mulheres em espaços de direção não é só um direito, como é a própria prática dos princípios e valores cooperativos. “É a possibilidade de fazer inclusão econômica e permitir que homens e mulheres atuem em uma estratificação que é de todos, é de propriedade coletiva, e em que nós, mulheres, temos um papel fundamental. Em quase todas as cooperativas estamos muito próximo, ou superamos, os 50% dos membros”, diz. Mais do que um exercício democrático de respeitar proporcionalidades, ela acredita que as mulheres precisam romper barreiras e exercer sororidade — conceito essencial no movimento feminista que significa estimular o apoio entre as mulheres destaca: Nós, mulheres, temos toda a possibilidade, capacidade intelectual para poder desempenhar os espaços diretivos das cooperativas e o que precisamos é romper barreiras, arriscar-nos a concorrer a processos eletivos (não importa se vamos ganhar ou não), aprender a nos organizar, fazer pactos com outras mulheres e mostrar que somos relevantes, importantes para as organizações, não só para o serviço como para gestão"  
Essa matéria foi escrita por Lílian Beraldo e publicada na edição 29 da revista Saber Cooperar. Leia a reportagem na íntegra.
   

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