RR | Cooperativas e voluntários transformam a vida de venezuelanos em Roraima
A venezuelana Neves Pulgar, de 32 anos, era confeiteira no país vizinho e veio para o Brasil com os quatro filhos. Ela chegou a morar na rua por dois meses e há quatro vive em um abrigo de imigrantes em Boa Vista, capital de Roraima. Nem mesmo as dificuldades tiraram dela o sorriso de quem é apaixonada pelo circo.
A estrangeira ganhou até nome de palhaça depois de participar da oficina circense ministrada por voluntários durante a celebração do Dia de Cooperar 2018. A palhaça "Bombom" disse que encontrou na oficina uma maneira de voltar a sorrir. "Eu quero levar alegria para as pessoas e trabalhar como palhaça no Brasil", contou.
As atitudes simples movem o mundo e transformam vidas, como a do jovem Luís José Concepción, de 19 anos. Ele era estudante de logística de festas e eventos na Venezuela, mas teve que abandonar os estudos e mudar para o Brasil, onde graças a oficina de artesanato em vasos certificada pelo Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop), pôde aprender outra profissão. O venezuelano de Barcelona Oriente, capital do estado de Anzoategui, acredita que no Brasil ele possa ter mais oportunidades que na sua terra natal. "Quero me profissionalizar ainda mais para seguir uma carreira e ganhar dinheiro aqui no Brasil", disse.
Assim como para Neves e Luís, o Dia C em Roraima mudou para melhor a vida de outros 700 venezuelanos que vivem no abrigo do bairro Jardim Floresta, na zona Oeste de Boa Vista, e serviu como oportunidade e esperança por dias melhores. Foram ministradas oficinas durante uma semana com cursos profissionalizantes, certificados pelo Sescoop/RR. Entre esses, houve reciclagem; língua portuguesa; artesanato em jarros para jardim; oficina de massa de modelar; escultura em balões e arte circense. Os cursos capacitaram 172 imigrantes, sendo 92 adultos e 80 crianças.
Cerca de 40 cooperativas roraimenses, com o apoio do Sistema OCB/RR, do ACNUR (Alto Comissionado das Nações Unidas para Refugiados), Exército Brasileiro e outros parceiros, realizaram pouco mais de 4 mil atendimentos aos estrangeiros abrigados. Durante o dia, foram oferecidos serviços nas áreas de saúde, como tipagem sanguínea; aferição de pressão arterial; verificação de IMC e glicemia; orientação de saúde bucal, entre outros. Os imigrantes também repaginaram o visual com corte de cabelo.
“Espírito de voluntariado” levou alegria aos estrangeiros
A escolha do abrigo como palco da celebração do Dia C demostra a boa vontade das cooperativas, dos cooperativistas e das instituições parceiras que aderiram ao movimento, como forma de contribuir com os venezuelanos em meio ao difícil momento que passam. “O sistema cooperativista consiste na promoção de iniciativas voluntárias diversificadas em cada município do país. São atividades ligadas à cultura, educação, responsabilidade socioambiental, saúde, esporte e lazer. Hoje afirmamos o espírito de voluntariado e reforçamos que existe esperança quando alguém segura nas mãos e incentiva a caminhar. Esse também é nosso papel”, destacou o presidente do Sistema OCB/RR, Silvio de Carvalho.
Por mês, mais de 12 mil venezuelanos cruzam a fronteira para entrar em Roraima
Devido ao desencadeamento do fluxo migratório em razão da situação político e econômica da Venezuela, Boa Vista poderá ter até o final do ano cerca de 59 mil venezuelanos. A situação afeta a logística e a estrutura de setores públicos da cidade, segundo levantamento feito pela Prefeitura de Boa Vista e divulgado recentemente. Segundo o estudo, realizado de 28 de maio a 9 de junho, o Exército Brasileiro contabilizou que 12 mil venezuelanos estão cruzando a fronteira, mensalmente, para entrar no estado de Roraima, com uma média de 416 imigrantes por dia. Destes, 2.700, equivalente a 22% do total, opta por permanecer no município de Boa Vista.
Atualmente, cerca de 25 mil imigrantes residem na Capital, um equivalente a 7,5% da população da cidade. A maior parte dos estrangeiros vivem em abrigos, por isso que, para o assessor de comunicação social da Força Tarefa Logística Humanitária, coronel Andrade Pontes, o Dia de Cooperar ajuda a melhorar a qualidade de vida dos imigrantes. “As características do Dia de Cooperar de trazer coisas diferenciadas fazem com que a acolhida dos imigrantes seja ainda melhor”, afirmou.
Para a assistente sênior de informação pública da Agência da Organização das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), Flávia Farias, as atividades desenvolvidas durante o encontro servirão como um segundo passo de integração dos venezuelanos no Brasil. “O evento foi lindo, cheio de cores e atividades fundamentais que ajudarão essas pessoas a darem um segundo passo para a integração’’, finalizou.
Por: Frank Denis